Leão          ~ Santo Inácio ~: 2010

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

"Jogados no mundo somos um nada"





Para Jean-Paul Sartre, a liberdade é a condição ontológica do ser humano. O homem é, antes de tudo, livre. O homem é livre mesmo de uma essência particular, como não o são os objetos do mundo, as coisas. Livre a um ponto tal que pode ser considerado a brecha por onde o Nada encontra seu espaço na ontologia. O homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo.


O tema da liberdade é o núcleo central do pensamento sartriano e como que resume toda a sua doutrina. Sua tese é: a liberdade é absoluta ou não existe. Sartre recusa todo determinismo e mesmo qualquer forma de condicionamento. Assim, ele recusa Deus e inverte a tese de Lutero; para este, a liberdade não existe justamente porque Deus tudo sabe e tudo prevê. Mas como deus não existe, a liberdade é absoluta. E recusa também o determinismo materialista: se tudo se reduzisse à matéria, não haveria consciência e não haveria liberdade. Qual é, então, o fundamento da liberdade? É o nada, o indeterminismo absoluto. Agora entende-se melhor a má fé: a tendência a ser termina sendo a negação da liberdade. Se o fundamento da consciência é o nada, nenhum ser consegue ser princípio de explicação do comportamento humano. Não há nenhum tipo de essência - divina, biológica, psicológica ou social - que anteceda e possa justificar o ato livre. É o próprio ato que tudo justifica. Por exemplo: de certo modo, eu escolho inclusive o meu nascimento. Por que? Se eu me explicasse a partir de meu nascimento, de uma certa constituição psicossomática, eu seria apenas uma sucessão de objetos. Mas o homem não é objeto, ele é sujeito. Isso significa que, aqui e agora, a cada instante, é a minha consciência que está "escolhendo", para mim, aquilo que meu nascimento foi. O modo como sou meu nascimento é eternamente mediado pela consciência, ou seja, pelo nada. A falsificação da liberdade, ou a má fé, reside precisamente na invenção dos determinismos de toda espécie, que põem no lugar do nada o ser.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

~ Cultura


Definição:



Cultura é um conceito desenvolvido inicialmente pelo antropólogo Edward Burnett Tylor para designar o todo complexo metabiológico criado pelo homem. São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço. Refere-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade. Explica e dá sentido à cosmologia social; É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período.


Mudanças:


A cultura é dinâmica. Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre mudanças. Traços se perdem, outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades.
Dois mecanismos básicos permitem a mudança cultural: a
invenção ou introdução de novos conceitos, e a difusão de conceitos a partir de outras culturas. Há também a descoberta, que é um tipo de mudança cultural originado pela revelação de algo desconhecido pela própria sociedade e que ela decide adotar.
A mudança
acarreta normalmente em resistência. Visto que os aspectos da vida cultural estão ligados entre si, a alteração mínima de somente um deles pode ocasionar efeitos em todos os outros. Modificações na maneira de produzir podem, por exemplo, interferir na escolha de membros para o governo ou na aplicação de leis. A resistência à mudança representa uma vantagem, no sentido de que somente modificações realmente proveitosas, e que sejam por isso inevitáveis, serão adotadas evitando o esforço da sociedade em adotar, e depois rejeitar um novo conceito.
O '
ambiente' exerce um papel fundamental sobre as mudanças culturais, embora não único: os homens mudam sua maneira de encarar o mundo tanto por contingências ambientais quanto por transformações da consciência social.


* Cultura e História -
As sociedade primitivas eram matriarcais, como apresenta vários trabalhos etnográficos a respeito. A sociedade matriarcal antiga, dentro do regime tribal, era anterior ao surgimento da propriedade privada dos meios de produção (que em tal época era somente a terra). Nessa sociedade, havia uma total liberdade sexual e toda a linhagem era definida pela mãe, considerando que não havia exames de DNA e que, sem o regime da monogamia, a única certeza da procedência era materna. Nessa sociedade, vingava uma espécie de religião mística, de cunho matriarcal, onde a "mãe terra" era identificada não só com a fertilidade (da tribo e do solo), mas como a senhora dos homens.
* Cultura e Atualidade -
A formação do novo proletariado arrancou, inicialmente, de modo brutal o status de animal doméstico da mulher. Para sobreviver e sustentar seus filhos, as brutalidades do capitalismo nascente empurraram não só o homem para jornadas de trabalho desumanas (16h ou mais), mas todas as mulheres e seus filhos. E ainda assim, lhes garantindo a apenas o direito à sobrevivência.O lado brutal dessa nova organização social, por outro lado, rompeu a dicotomia que sustentava ainda a "mulher dependente" dentro da classe trabalhadora. Se na burguesia a mulher rompia a dependência apenas através de uma herança repentina (única hedeira ou casos similares), na classe trabalhadora, a mulher abandonava a dependência porque não havia mais essa opção e a nova economia nascente não só possibilitava mais em alguns casos exigia o trabalho feminino, como em casos que dependesse de uma habilidade mais "feminina", como em alguns ramos da nascente indústria textil, e como hoje em dia, nos ramos de atendimento e vendas.Essa mulher trabalhadora, forjada na exploração capitalista e nascida no seio da nova classe trabalhadora moderna (proletariado ou assalariado), criou para si uma nova imagem de mulher, a mulher independente. Como exemplo ilustrivo inegável disto, está o Dia Internacional da Mulher, aonde é lembrado o massacre de operárias que lutavam por melhores condições de trabalho.
Conclusão:
Essa nova mulher trabalhadora, urbana, independente ainda rivaliza com a identidade antiga de mulher submissa, doméstica e alienada - geralmente mulheres com origem provincianas. A partir do surgimento do anti-concepcional, que deu a largada para a revolução sexual, pois rompia com a gravidez-casamento como resultado quase imediato da relação sexual, a nova mulher impõe ao homem aquilo que há séculos foi imposto a ela, unilateralmente, a fidelidade, a monogamia. A mulher independente não reconhece mais o direito do homem de "dar sua escapadas", não mais ignora tais devios em nome da dependência material a ele.A instituição da monogamia, por sua vez, está em crise. Ela nasceu única e exclusivamente graças ao monopólio econômico dos homens com o surgimento da propriedade privada antiga, mas hoje, é a própria propriedade privada moderna que destrói a mulher submissa. O que está em jogo é se tal instituição agora deve valer para ambos ou para nenhum, isto é, monogamizar o homem ou poligamizar a mulher.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ágora



Ágora era a praça principal na constituição da pólis, a cidade grega da Antiguidade clássica. Normalmente era um espaço livre de edificações, configurada pela presença de mercados e feiras livres em seus limites, assim como por edifícios de caráter público. Enquanto elemento de constituição do espaço urbano, a ágora manifesta-se como a expressão máxima da esfera pública na urbanística grega, sendo o espaço público por excelência. É nela que o cidadão grego convive com o outro, onde ocorrem as discussões políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da cidadania. Por este motivo, a ágora (juntamente da pnyx, o espaço de realização das assembleias) era considerada um símbolo da democracia direta, e, em especial, da democracia ateniense, na qual todos os cidadãos tinham igual voz e direito a voto. A de Atenas, por este motivo, também é a mais conhecida de todas as ágoras nas póleis da antiguidade.







Filme




Agora é o título de um filme espanhol dirigido por Alejandro Amenábar, lançado na Espanha, em 9 de outubro de 2009. O filme é estrelado por Rachel Weisz e Max Minghela e relata a história da filósofa Hipátia, que viveu em Alexandria, no Egito, entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. Durante o relato, a história apresenta uma licença romântica, incluindo uma ligação entre Hipátia e um de seus escravos.

- Comentários:

Não poderia deixar de mostrar a minha satisfação em constatar que não fui o único a considerar Ágora como uma bela obra de arte, com uma elevada componente intelectual que deveria ser vista nas salas de cinema mais frequentemente.
O filme deveria ter sido alvo de um marketing mais forte, no entanto, acredito que tal tenha sido motivado pela forte mensagem religiosa que o filme pretende passar e que com algum grau de certeza, acredito que muitos ainda não estejam prontos para a compreender com olhos de ver.

Filosofia

A palavra filosofia é de origem grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio.
Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim a filosofia indica um estado de espírito da pessoa que ama, isto é, daquela que deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
Pitágoras de Samos teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. “Quem quiser ser filósofo necessitara infantilizar-se, transformar-se em menino”. (M. Garcia Morente).
1. Filósofos
¤ A principal característica que Aristóteles vê num filósofo é que ele não é um especialista. O sophós (o sábio, tomado aqui como sinônimo de filósofo), é um conhecedor de todas as coisas sem possuir uma ciência específica. O seu olhar derrama-se pelo mundo, sua curiosidade insaciável o faz investigar tanto os mistérios do kosmos (o universo) como o da physis (a natureza), como as que dizem respeito ao homem e à sociedade. No fundo, o filósofo é um desvelador, alguém que afasta o véu daquilo que está a encobrir os nossos olhos e procura mostrar os objetos na sua forma e posição original, agindo como alguém que encontra uma estátua jogada no fundo do mar coberta de musgo e algas, e gradativamente, afastando-as uma a uma, vem a revelar-nos a sua real forma.
¤ Para Platão, a primeira atitude do filósofo é admirar-se. A partir da admiração faz-se a reflexão crítica, o que marca a filosofia como busca da verdade. Filosofar é dar sentido à experiência.
¤ Sócrates foi um filósofo ateniense, um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental, e um dos fundadores da atual Filosofia Ocidental. As fontes mais importantes de informações sobre Sócrates são Platão, Xenofonte e Aristóteles (Alguns historiadores afirmam só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria.). Os diálogos de Platão retratam Sócrates como mestre que se recusa a ter discípulos, e um homem piedoso que foi executado por impiedade. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos, todavia se escalava o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto das idéias (Maiêutica) dos cidadãos de Atenas, mas era indiferente em relação a seus próprios filhos.O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). Sócrates admitiu que poderia ter evitado sua condenação (beber o veneno chamado cicuta) se tivesse desistido da vida justa. Mesmo depois de sua condenação, ele poderia ter evitado sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos. A razão para sua cooperação com a justiça da pólis e com seus próprios valores mostra uma valiosa faceta de sua filosofia, em especial aquela que é descrita nos diálogos com Críton.